"Entre os muitos acontecimentos ocorridos nos anos sessenta que mudariam a face da música popular brasileira, estão as produções de espetáculos que se tornaram antológicos, como o Opinião onde se fundia a música urbana da zona sul carioca com Nara Leão, o samba de Zé Kéti e a música nordestina representada por João do Vale. Num outro momento tínhamos um grupo de artistas que se confraternizavam em pequenas apresentações no bar Zicartola, de propriedade do sambista mangueirense Cartola e de onde sairiam novos talentos que ajudariam na maturação da música popular como o elemento cultural mais representativo daquele período. Dessas noitadas no Zicartola surgiu a idéia de se realizar um show onde essas novas promessas fossem apresentadas ao grande público juntamente com artistas já consagrados, nascia então o projeto Rosa de Ouro idealizado por Hermínio Bello de Carvalho. Estreando em 1965 no Teatro Jovem o espetáculo Rosa de Ouro visava principalmente apresentar toda a verdadeira grandeza do samba de morro em sua manifestação mais pura. O show começava com cinco sambistas, todos vestidos de branco, usando cada um na gravata a cor de sua escola de samba. Num cenário no qual aparecia uma pequena mesa de bar, os artistas iam cantando e se identificando junto à platéia. Eram eles: Elton Medeiros, da Escola de Samba Unidos de Lucas; Jair do Cavaquinho, da Portela; Anescar, do Salgueiro; Nelson Sargento, da Mangueira e ainda da Portela o garoto Paulinho da Viola em início de carreira. No elenco ainda tínhamos a veterana Aracy Cortes, artista que reinara absoluta no palco dos teatros da Praça Tiradentes nas décadas de vinte e trinta e que retornava as apresentações públicas depois de um longo afastamento. Porem o acontecimento mais importante do Rosa de Ouro, foi ter revelado para o Brasil uma grande intérprete recentemente descoberta por Hermínio Bello de Carvalho e que iria revolucionar os conceitos interpretativos tradicionais do samba, mostrando toda uma cadência impregnada de pureza e plena identificação com suas raízes africanas, seu nome, Clementina de Jesus. O espetáculo ficou vários meses em cartaz no Rio e em São Paulo, onde alcançou também enorme sucesso. Tão vitorioso que dois anos depois, em 1967 retornava ao palco do Teatro Jovem com os mesmos artistas, fazendo outra temporada em São Paulo e na Bahia, onde se apresentaram no Teatro Castro Alves com o êxito de sempre. No intuito de deixar registrada para a posteridade uma página tão importante da música popular brasileira a Odeon lançou ainda em 1965 um LP contendo os melhores momentos do show, onde podemos apreciar a performance de um Paulinho da Viola estreando timidamente e já demonstrando todo o vigor de seu talento, Aracy Cortes em impressionantes interpretações como em Ai ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, música essa que foi o primeiro samba canção brasileiro e por ela gravada em 1929 na Parlophon, Rouxinóis, de Lamartine Babo e o clássico Jura, de Sinhô, por ela também gravada em 1930. Outro momento fabuloso são as interpretações de Clementina de Jesus, em Benguelê, Boi não berra, Siá Maria Rebolo e Maparema, canções de origem folclórica, que são precedidas por Clemetina, cadê voce? de Elton Medeiros que o grupo de sambistas canta chamando a rainha negra para o palco. Reviver esses momentos do Rosa de Ouro é poder verificar a verdadeira música popular, num momento histórico em que buscava reafirmar sua tradição através de um processo de resistência cultural que iria marcar profundamente os novos rumos que seriam por ela percorridos, e que seriam fundamentais para sua afirmação como um dos elos mais importantes da formação de nossa nacionalidade. É importante salientar que a segunda temporada do Rosa de Ouro em 1967 também foi agraciado com um LP novamente gravado na Odeon, confirmando a qualidade e a perenidade do espetáculo."
(Luiz Américo Lisboa Junior)
http://www.mediafire.com/download.php?nztwmmmg0qm
ResponderExcluirObrigado Gente!
ResponderExcluirestava procurando este ótimo trabalho.
Abraços, Ismael